terça-feira, 18 de outubro de 2011

Palavras Iniciais


I CHING
(ou Jing Yi, ou Yi Zhou)
(O Livro das Mutações)




“Toma primeiro as palavras,
Medita sobre o seu significado
Então, regras fixas se revelarão.
Mas se não és o homem certo,
O sentido não te será revelado.”



Numa prosa um tanto rítmica e rimada, exorta-se aqui o estudo assíduo do Livro da Mutações (I Ching). O texto enfatiza usando termos elogiosos que a mudança é contínua, é a regra do livro. Concluindo, chama-se a atenção para o fato de que uma capacidade interior é essencial para compreensão do livro, sem o que ele permanecerá fechado a sete chaves: se aquele que consulta o oráculo não está em contato com o Tao, não recebe uma resposta inteligível, uma vez que esta não seria de nenhuma valia.











Bem, nesta Primavera de 2011, resolvi expor aqui de forma didática o maravilhoso oráculo I Ching, sugiro, no entanto, que comprem qualquer livro sobre o I Ching para que possam ter as respostas dos 64 hexagramas. Aqui tem como baixar o principal na postagem Livros do I Ching. Este blog baseia-se em fragmentos do clássico “I Ching - O Livro das Mutações”; do alemão Richard Wilhelm. Quando houver disponibilidade vou carregar os hexagramas. Por hora, CONSULTEM o I Ching, o link está na postagem "Consulta com Moedas". Ou melhor, está AQUI.












Palavras Iniciais 


























China - Parte I e Parte II



Horóscopo Chinês (Conheça sua personalidade)

 










Sobre a tradução do I Ching do alemão Richard Wilhelm



A tradução que está agora sendo apresentada ao público de língua portuguesa surgiu da iniciativa de Alayde Mutzenbecher junto à Editora Pensamento, em 1979. Alayde, que fora minha aluna em cursos sobre I Ching, na Universidade Cândido Mendes, propôs, após os contatos com a Editora Pensamento, que trabalhássemos juntos na tradução. Teve início então uma jornada que consumiria mais de três anos. Decidimos que Alayde faria primeiramente uma versão, tanto quanto possível literal, do alemão para o português. Nessa versão, as inúmeras dificuldades afluiriam, tanto na busca de uma equivalência para certas expressões, como também na determinação de um específico sentido entre os vários possíveis. Nessa etapa, o texto passava às minhas mãos. Foram também consultadas as traduções inglesa, francesa, argentina e chilena do texto de Wilhelm. Dentre essas traduções, a versão inglesa de Cary F. Baynes, que contou com a revisão de Helmult Wilhelm, requeria especial atenção. A colaboração de Helmut Wilhelm possibilitou a correção de alguns pequenos lapsos existentes no texto alemão, assim como a elucidação de certas passagens mais obscuras. A revisão de Helmut Wilhelm se fez, inclusive, numa época em que novas pesquisas sobre o I Ching traziam à luz dados inexistentes na época em que o trabalho de seu pai se realizou.




Ao leitor que estiver tomando um primeiro contato com o I Ching, julguei serem úteis alguns esclarecimentos em certas passagens. Para tanto, acrescentei notas, que estão identificadas como relativas à tradução brasileira - o que as distingue, sem risco de dúvida, das notas do texto original.

Tal como na tradução inglesa, mantivemos a transcrição dos termos chineses de acordo com o sistema Wade, geralmente adotado nos estudos de sinologia.


Quando o texto parecia ter alcançado seu perfil definitivo, uma nova revisão teve lugar, outra vez com a colaboração de Alayde, que acompanhava, com o texto em alemão, a leitura do texto em português. As passagens mais problemáticas eram anotadas e revistas. Nessas diversas etapas, inúmeras pessoas contribuíram com sugestões, revisões, consultas, de modo que, na realidade, o trabalho de tradução consistiu num esforço conjunto e não na obra isolada de dois indivíduos. A ajuda de todos possibilitou a conclusão do presente texto. Agradecer-lhes, nunca se poderia fazer o bastante, e, creio, seria desnecessário, pois, para todos nós, esteve sempre claro que o trabalho, sem dúvida exaustiva, era também uma oportunidade rara e afortunada de intenso convívio com tão extraordinário acervo de sabedoria. Quanto aos méritos que na presente tradução se possam encontrar, devem-se, sem dúvida, às contribuições de todos os que junto conosco trabalharam. Quanto aos erros que nela subsistem, estes devo assumir pessoal e solitariamente, pois a mim coube a pesada e difícil responsabilidade da palavra final. Procurei de todos os modos evitá-los; nisso coloquei o mais sério empenho, a mais completa dedicação. Não poderia fazê-lo diferente, pois quem ama não sabe negar esforços em favor do que ama. Ao final, resta-me apenas a certeza de que fiz tudo o que me foi possível.

Aos que estiverem lendo o I Ching pela primeira vez, gostaria de dizer que não se deixem esmorecer diante do que lhes pareça demasiado obscuro. Há de aclarar-se, pois não há noite que dure para sempre. É nesse esforço que se pode aprender a virtude da perseverança, tão enfatizada no Livro das Mutações.

Ao relermos o I Ching, é necessário e recomendável que estejamos atentos ao perigo do que julgamentos demasiado claro. Os dias também findam e o destino de todo saber é conduzir-nos ao não-saber. Só nesse cuidado poderemos cultivar a virtude da modéstia, ressaltada no Hexagrama 15. O estudo do I Ching é um trabalho constante, no qual, mais que um acúmulo de conhecimento, se processa uma crescente conscientização do ignorado. Ao primeiro ano de estudo, em geral julgamentos que estamos sabendo muito mais do que antes. Ao décimo ano, em geral descobrimos que desconhecemos o livro muito mais do que julgávamos. Ao início do estudo, procuramos o significado do I Ching através dos textos; a seguir, através do Kua e, finalmente, na própria vida, da qual surgiram os Kua (Trigramas), dos quais surgiram as palavras. O caminho deve reencontrar o ponto de partida e descobrir que no próprio caminhar tudo se modificou.

Que a presente tradução possa tornar acessível, ao maior número de pessoas, o ponto de partida deste extraordinário caminho sem fim, e que o legado do passado possa assim ser transmitido para o futuro.

Gustavo Alberto Corrêa Pinto
Lhassa, 5 de junho de 1982


Então vamos lá...

História do I Ching


HISTÓRIA DO LIVRO DAS MUTAÇÕES (I CHING, em chinês)
(Fragmentos do Livro das Mutações)



O I Ching, ou Livro das Mutações, apareceu na China há aproximadamente 3.000 anos, mas teve sua origem em formas oraculares ainda mais antigas, de uma época conhecida como “era mítica do Imperador Fu Hsi” (aproximadamente 4.000 anos a.C.), herói lendário considerado o fundador da civilização chinesa.

É um texto clássico chinês composto de várias camadas, sobrepostas ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros. Antes era chamado apenas I: o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como "mudança" ou "mutação".

Na literatura chinesa, quatro sábios são citados como autores do Livro das Mutações: respectivamente Fu Hsi, Rei Wen, o Duque de Chou e Confúncio. Fu Hsi é uma figura lendária que representa a era da caça e da pesca, devendo-se a ele também o hábito de cozer alimentos. O fato de ser ele indicado como o inventor dos signos lineares do Livro das Mutações significa que lhes é atribuída uma tal antiguidade que antecede à memória histórica.
  
 
Imperador Fu Hsi

Rei Wen

Duque de Chou

 
Segundo a tradição geralmente aceita, sobre o qual não temos motivo para levantar suspeitas, a atual compilação dos sessenta e quatro (64) hexagramas teve sua origem com o Rei Wen, antecessor da dinastia Chou. Diz-se que ele acrescentou breves julgamentos aos hexagramas durante o período em que esteve aprisionado por ordem do tirano Chou Hsin. O texto relativo às linhas foi redigido por seu filho, o Duque de Chou. Sob essa forma, e com o título de “As Mutações de Chou” (Chou I), foi usado como oráculo durante o período da dinastia Chou como demonstram vários antigos registros históricos.

Segundo a antiga tradição Chinesa, o inventor dos oito trigramas (pa-kua) que representam o fundamento do sistema do I Ching e dos quais derivam os 64 hexagramas, foi o primeiro lendário imperador Chinês que governou entre os anos 2852-2737 a.C.: Fu Hsi.

Este personagem doou às populações muitas invenções úteis e inovadoras para a época, como a pesca com a rede, a criança de vermes de seda e a oportunidade de domesticar os animais.

A mais importante entre suas invenções é a dos oitos trigramas e a consultação do oráculo por meio dos ramos de aquileia (Achillea millefolium). O segundo personagem que deu sua contribuição à composição do Livro das Mudanças foi Ching Wen, como vimos acima.

Conhecido como o fundador da Dinastia Chou (1150-249 a.c.) e grande escritor (seu nome significa “civilização ching” ou “escritura ching”), introduziu os 64 hexagramas, seu nome e significado (texto T’uan). Ching Wen escreveu seu livro durante a detenção ordenada por Hsin – o tirano, destituído a seguir pelo filho Wu. Foi ele que deu o nome ao “Livro das Mudanças”.
Essa era a forma do Livro quando Confúncio o encontrou.







ORIGENS


O mais antigo método chinês de adivinhação do qual se tem notícia é a leitura de sinais em ossos de boi. Em geral, a omoplata do animal era colocada sobre o fogo e, depois de algum tempo, apareciam rachaduras no osso, provocadas pelo calor, que eram então lidas como a mensagem do destino. Desse método primordial – após o Imperador Fu Hsi ter visto uma tartaruga sair do rio - derivou-se o de queimar a carapaça (o casco) da tartaruga, animal sagrado para os chineses, símbolo da estabilidade e da longevidade. Exposta também ao calor, a carapaça rachava-se e o adivinho interpretava as linha que se tinham formado. Embora não exista nenhuma prova concreta, alguns estudiosos especulam que esse tipo de leitura de linhas originou a primeira forma de I Ching, constituída pelos oito Trigramas básicos, que alternam linhas inteiras (Yang) e cortadas (Yin).


O I Ching surgiu antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.) e era um conjunto de oito Kua, figuras formadas por três e seis linhas sobrepostas. James Legge, na sua tradução para o inglês (1882), chamou trigrama o conjunto de três linhas e hexagrama o de seis, para distingui-los entre si.


Por volta de 1150 a.C., o Imperador Shang Chou Hsin, despeitado pela reconhecida capacidade de governar do Rei Wen, senhor da província de Chou, mandou aprisioná-lo. Enquanto estava preso, Wen empregou seu tempo elaborando os julgamentos que acompanham os hexagramas. Depois de um período de lutas, no qual a província de Chou se rebelou, o Rei Wen retirou-se do governo e foi sucedido pelo seu filho Wu, que derrotou a dinastia Shang, dando início à dinastia Chou. Wu, conhecido como o Duque de Chou, descobriu os estudos que o pai realizara sobre o I ching e, percebendo a importância cultural que continha, decidiu continuar a obra. Sua grande contribuição foram os 384 comentários das linha mutáveis (ou móveis).


Segundo a tradição, durante a dinastia Shang (c. 1766-1122 a.C.) e durante o primeiro período da dinastia Chou, o oráculo era consultado através de varetas de caule de milefólio. O adivinho jogava as varetas e obtinha um número par ou impar, que determinava se a linha era inteira ou cortada, depois de ter jogado seis vezes, o hexagrama estava formado.
 

Muito tempo depois (Século 6 a.C), o I Ching foi enriquecido com os comentários, atribuídos a Confúcio (adaptação ocidental do nome K'ong Fu-Tse) e alguns de seus discípulos. Posteriormente, Pu Shang, um seguidor de Confúcio, foi encarregado de difundir os conhecimentos milenares conservados no livro, formando-se então em torno dele toda uma escola filosófica, que produziu grande quantidade de textos anteriores, deram origem ao que atualmente é conhecido como as Dez Asas. Sobrevivendo às guerras, às várias dinastias e à queima das bibliotecas, o I Ching atravessou os séculos até chegar ao Ocidente em fins do século passado. No entanto, o Livro das Mutações ainda deveria esperar até 1923 para alcançar uma tradução à altura de seus méritos. Nesse ano, depois de longas pesquisas, o sinólogo Richard Wilhelm deu a conhecer sua tradução para a língua alemã da grande obra chinesa.

Confúcio

Atribui-se a Confúcio (Kung Tzu, 551-478 a.c.) a escritura dos Comentários e parte dos Apêndices do “Livro das Mutações” ou “O Livro das Mudanças”.
 
À idade de 50 anos, Confúcio declarou: “Se o céu me pudesse dar outros 50 anos de vida, os dedicaria ao estudo do I- Ching e quiçá então aprenderia a manter-me afastado dos problemas”. Confúcio escreveu dez comentários sobre este clássico, chamados “As Dez Asas”, transformando um texto de predições numa das melhores obras da filosofia.
 
Já com idade avançada dedicou-lhe um intenso estudo, sendo muito provável, que o Comentário sobre a Decisão (T’an Chuan), seja trabalho seu. O Comentário sobre a Imagem também reporta a ele, ainda que menos diretamente. De um terceiro tratado, um importante e detalhado comentário sobre as linhas, compilado por seus discípulos ou sucessores sob a forma de perguntas e respostas, restam apenas fragmentos. (Alguns encontram-se na seção intitulada Wên Yen”Comentário às Palavras do Texto -, outros estão no Ta Chuan” – O Grande Tratado).
 
Desde então o livro do I Ching foi a inspiração também para os sucessivos Taoistas, como Chuang Tzu e Lao Tzu, e para diferentes filósofos e científicos.


 
Repito, dentre os seguidores de Confúncio parece que foi principalmente Pu Shang (Tzu Hsia) que difundiu o conhecimento do Livro das Mutações. Com o desenvolvimento da especulação filosófica, como se vê no “Ya Hsueh” e no “Chung Yung”, esse tipo de filosofia exerceu uma influência cada vez maior na interpretação do Livro das Mutações. Toda uma filosofia se desenvolveu em torno do Livro, do qual fragmentos – alguns antigos, outros mais recentes – encontram-se nas chamadas “Dez Asas (Coletânea de Tratados referentes ao I Ching). Elas diferem muito entre si quanto ao conteúdo e valor intrínseco.


O Livro das Mutações escapou ao destino dos outros clássicos na época da famosa queima de livros ordenada pelo tirano Ch’in Shih Huang Ti. Caso houvesse algum fundo de realidade na lenda de que esse incêndio seria o único responsável pela mutilação dos textos dos antigos tratados, o I Ching, pelo menos, deveria estar intacto; mas não é esse o caso. Na verdade, as vicissitudes dos séculos, o colapso das culturas tradicionais e a mudança no sistema de escrita é que são responsáveis pelos danos sofridos por todas as obras da antiguidade.
 
Os livros de bambu e seda viraram fumaça, arruinando o nome do imperador. No rio eles guardavam em vão reino do dragão imperial. Mesmo antes que as cinzas tivessem esfriado, uma rebelião eclodiu em Shandong - Liu Bang e Xiang Yu, ao que parece, não leu os livros. - Zhang Jie (836-905)
 
Notas: Este poema refere-se à famosa queima de livros ordenados por Qin Shi Huang (ou Ch’in Shih Huang Ti), o primeiro imperador da China, em 213 a.C., a fim de suprimir a dissidência e destruir os escritos de todas as escolas de pensamento, exceto para os legalistas (Fajia??). Livros na época eram escritos em tiras de bambu ou rolos de seda. A ironia é que as rebeliões camponesas e revoltas militares que derrubaram o Império Qin apenas sete anos depois (206 a.C.), foram conduzidos por homens de ação que não estavam interessados em "livro-aprendizagem", como Xiang Yu, um alto general, e Liu Bang, um oficial do Exército que se tornou o fundador do Han de Qin Shi Huang, Tiananmen Wax Museum, em Pequim.
 
O I Ching escapou à grande queima de livros feita pelo tirano Ch'in Shih Huang Ti, no tempo em era considerado um livro de magia e adivinhação, o que levou a escola de magos das dinastias Ch'in e Han a interpretá-lo segundo outras visões “A doutrina do yin-yang” foi sobreposta ao texto. O sábio Wang Pi veio a resgatá-lo como livro de sabedoria mais tarde.

Ch’in Shih Huang Ti


Filosofia e Cosmologia no I Ching

As oito figuras que formam o I Ching estão na base da cultura que se desenvolveu na China durante milênios. Para os chineses a ordem do mundo depende de se dar o nome correto às coisas, portanto o significado de "I" sempre foi objeto de discussão. Alguns vêem o ideograma I como semelhante ao desenho de um camaleão, representando o movimento (como o lagarto) e a mutação (como o mimetismo do camaleão). Outros afirmam que o ideograma é formado pelo do Sol em cima e o da Lua embaixo, a mutação sendo simbolizada pelo movimento incessante destes astros no céu.
 
Os versos do I Ching foram transmitidos por sucessivas gerações de estudiosos até o século 17 a.C, quando foram anotadas em tiras de bambu. No século 12 a.C, o rei Wen escreveu os primeiros comentários sobre o trigramas do I Ching. Ao longo do tempo, o Rei Wen, seu filho e Tan o Duque de Chou continuou a trabalhar sobre o I Ching e é o que Duke está creditando com ajuste de dois trigramas uma sobre a outra para fazer um hexagrama .
 
Muito mais tarde, o imperador Chin proibiu centenas de livros sobre religião e filosofia. E, mais tarde foi Hitler, Stalin, o Khmer Vermelho de Mao Tze Tung e, o I Ching que estavam na lista do conhecimento proibido. Apesar de tudo, sobreviveu e foram transmitidos oralmente pelos ciganos, que tinha a vantagem de nunca ficarem em qualquer lugar por tempo suficiente para ser controlado por nenhum governo. Durante a última dinastia imperial, que durou de 1644-1912, as raízes originais do I Ching foi mais uma vez descoberto e estudado, e desta vez eles permaneceram na impressão. Os comunistas chineses desaprovou a adivinhação chinesa , considerando-os superstições inúteis, mas eles perceberam que era tarde demais para bani-las totalmente.

O I Ching ou Livro das Mutações, é um texto clássico chinês composto por várias camadas, sobrepostas ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros de conhecimento. Antes era chamado apenas I : o ideograma I é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como "mudança" ou "mutação".
 
Para o pensamento chinês, não há o que mude, há apenas o mudar. A mutação seria o caráter do mundo. Mas a mutação é, em si mesma, invariável, ela existe sempre. Portanto, "I" significa mutação e não-mutação. Subjaz, à complexidade do universo, uma 'simplicidade' que consiste nos princípios que estão por detrás de todos os ciclos. Ao fluir com as circunstâncias evita-se o atrito e portanto a resistência: esse é o caminho do homem sábio.

Tanto o taoísmo como o confucionismo, as duas linhas da filosofia chinesa, beberam da fonte do I.
 
Tudo que ocorre no céu e na terra tem sua imagem nos oito trigramas, que estão continuamente a transformar-se um no outro. Têm várias camadas de significados, e representam processos da natureza. São, portanto, o mundo arquetípico, ou o mundo das idéias de Platão. É usada para ilustrá-los a analogia com a família:

  • o pai é forte
  • a mãe é maleável
  • os três filhos são as três fases do movimento: início, perigo e repouso
  • as três filhas são as três etapas da devoção: suave penetração, clareza e tranquilidade
 
Em Heráclito (filósofo pré-socrático grego), e mais tarde na dialética européia, encontramos os ecos da fluidez que é a base do I Ching.



Já vimos que, a origem dos 64 hexagramas é atribuída a Fu Hsi, o criador mítico chinês, e até a dinastia Chou eles formavam o I. Os oito trigramas têm nomes não encontrados em chinês e a sua origem é pré-literária.
 

O tempo obscureceu a compreensão das linhas, e no começo da dinastia Chou surgiram dois anexos: o Julgamento, atribuído pela tradição ao rei Wên, e as Linhas, atribuídas a seu filho, o duque de Chou, ambos fundadores desta dinastia.
 

Mais tarde, mesmo o significado destes textos começou a ficar obscuro, e no século VI a.C. foram acrescentadas as Dez Asas, que a tradição atribui a Confúcio, embora seja claro que a maioria delas não pode ser de sua autoria. O nome "I Ching" é dado ao conjunto dos Kua e todos os textos posteriores.


Houveram várias traduções do "I Ching" para línguas ocidentais, algumas claramente desrespeitosas, tratando a cultura chinesa como primitiva. A tradução de James Legge fez parte da série Sacred books of the East (Livros sagrados do Oriente), e foi traduzida também para o português.


Richard Wilhelm traduziu o I Ching para o alemão ao longo dos anos em que viveu na China, inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi cercada. Teve o apoio de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao ser concluída a tradução. A edição alemã é do ano de 1923. Wilhelm traduziu também outro clássico chinês, o Tao Te Ching.


O uso oracular do I Ching
 
O ênfase no aspecto oracular do "I" variou com o tempo. No século VI a.C. era visto mais como livro de filosofia, ao passo que na dinastia Han, quando a magia teve grande papel, era visto como oráculo.
 
Como todo oráculo, exige a aproximação correta: a meditação prévia, o ritual, e a formulação precisa da pergunta. O oráculo nunca falha, quem falha é o consulente: se a pergunta não foi clara e precisa, isto indica que a pessoa não tem clareza sobre o que deseja saber. O ritual tem a função psicológica de focar a atenção da pessoa na consulta.
 
Mudanças nos assuntos terrestres e celestes seguem uma ordem previsível natural, com permutação causados pelo destino, o comportamento terrestre e celeste é considerado além da capacidade da humanidade de controlar e representa a Ordem Universal ou Cósmica. A única palavra "Tao", que se traduz como "Caminho," representa um modo Universal ou Cósmico e é usado em todo o texto a seguir.
 
Humanidade, por outro lado, exercícios de vontade livre e possui a capacidade de mudança de comportamento por escolha. I CHING captura viaja da humanidade que a Ordem Universal (Tao) e fornece conselhos com os quais pode-se fazer uma mudança significativa para a melhoria da sua própria vida. Como o I Ching identifica a posição da humanidade dentro do Tao, que também é capaz de retratar e prever circunstâncias tão facilmente como se pode prever queda de neve nos dias de inverno ou quente no verão.

Isto leva a um dos preceitos importantes do I Ching:
 
"Para Pessoas Superior do I Ching dá conselhos,
relativamente às pessoas Inferior faz previsões. "

A "Pessoa Superior" é considerado como aquele que está se esforçando para a melhoria no estilo de vida, comportamento, e a acumulação de sabedoria. A "pessoa inferior" é considerado como sendo lançados sobre pelos caprichos do destino.

Significado do I Ching
 
O livro do I Ching, conhecido também como “o livro das mudanças”, é um dos cinco clássicos e fundamentais livros do Confucionismo. Desde tempos imemoráveis é, sem lugar a dúvidas, o principal oráculo e o primeiro recurso espiritual dos povos asiáticos. Ademais, tem sempre tido um aumento crescente em Europa e América graças a sua misteriosa potencialidade de dar prognósticos muito detalhados a quem deseje estudá-los com atenção. O I Ching não faz uma verdadeira previsão do futuro, mas brinda uma clara visão do presente e oferece indicações sobre como enfrentar o momento atual que estamos a viver. “Vai bem mais” da pergunta que foi formulada, pondo ao nu as mais profundas verdades da natureza de nosso inconsciente; naturalmente, consultando o I Ching obtém-se também a previsão de um determinado evento, mas dependerá sempre de nossa vontade.


Mais da história do I Ching



I CHING - O LIVRO DAS MUTAÇÕES



Há milhares de anos o I Ching é utilizado como oráculo e conselheiro, servindo imperadores e pessoas comuns de modo imparcial. Segundo os sábios, ele pode abrir as portas do autoconhecimento e funcionar como uma chave para a compreensão do universo.


As lendas chinesas dizem que o I Ching - O Livro das Mutações surgiu num período mítico do tempo, mas a história afirma que os textos e comentários mais antigos datam do período em que teriam vivido o Rei Wen e seu filho, o Duque Chou, no século XII a.C.. A autoria do I Ching clássico é creditada ao Rei Wen e acredita-se que os comentários foram um acréscimo do sábio Confúcio (551-479 a.C.), quando de seu famoso estudo sobre o Livro das Mutações.
 

Para grande parte dos pesquisadores, o famoso milenar oráculo é um produto do amadurecimento sócio-cultural da China nos últimos 3000 anos. Tudo o que aconteceu de importante nesse período foi de alguma maneira adaptado e acrescentado à obra. Vários estudiosos do Oriente e Ocidente têm se debruçado sobre suas páginas com o objetivo de estudá-lo e compreender melhor os textos que, muitas vezes, tornam-se enigmas de difícil entendimento devido à linguagem rebuscada do chinês antigo.
 

O I Ching também teve grande influência sobre toda a filosofia chinesa, principalmente o Taoísmo e Confucionismo — duas das principais linhas de pensamento chinês. Mas essa influência não se restringiu à filosofia apenas, estendendo-se ao governo, música e artes plásticas. Várias obras foram inspiradas nas idéias contidas no oráculo e decisões de Estado foram tomadas com base no julgamento que ele apresentava.
 

O Livro das Mutações é tão considerado pelos chineses que foi a única obra que sobreviveu à queima de escritos e livros no período de Ch'in Shih Huang Ti, quando desapareceram dezenas ou centenas de obras que poderiam esclarecer diversos pontos da história do Extremo Oriente.


Os textos e comentários do I Ching foram trazidos ao ocidente por James Legge, em seu livro The Sacred Book of the East, XVI: The I King, editado em 1882. Foi ele quem utilizou pela primeira vez os termos trigrama (três linhas dispostas de forma vertical representando, respectivamente, de baixo para cima: a terra, o homem e o céu) e hexagrama (dois grupos de trigramas verticais), posteriormente adotados em todos os escritos sobre o tema. Mas o grande responsável pela divulgação do no ocidente foi Richard Wilhelm em sua obra I Ching - O Livro das Mutações, publicado no Brasil pela Editora Pensamento. O volume traz comentários do ilustre Carl Gustav Jung, que se apaixonou pelo que ali está escrito, e dedicou-se ao seu estudo e compreensão durante toda a vida.


Quando os filósofos e intelectuais do Ocidente descobriram livro, começaram a perceber a grande sabedoria contida em suas palavras, que revelavam uma forma inovadora de lidar com a vida e o ser humano. A maneira como o Extremo Oriente era visto até então mudou radicalmente, com a profundidade filosófica da obra comparada aos textos de Platão e Sócrates. Não apenas isso, segundo alguns estudiosos, o I Ching pode até mesmo ser comparado a outros livros sagrados da humanidade, como a Bíblia e a Torah.




O "I Ching" pode ser compreendido e estudado tanto como um oráculo quanto como um livro de sabedoria. Na própria China, é alvo do estudo diferenciado realizado por religiosos, eruditos e praticantes da filosofia de vida taoísta.
 
O uso do Livro das Mutações como oráculo sempre foi muito controverso. De maneira geral, as pessoas buscam no sobrenatural uma resposta para seus questionamentos e dúvidas, acreditando que o mundo espiritual tem todas as soluções que elas necessitam. Com o I Ching, as coisas não são bem assim.

O Livro das Mutações não é somente um oráculo, mas também um oráculo. No ocidente, vários erros e abusos foram cometidos como resultado de uma visão estereotipada sobre ele. Na maior parte das vezes, a obra serve somente como um guia, mostrando qual direção seguir ou indicando percalços e vantagens possíveis de cada caminho.
 
A busca por verdades espirituais é um desenvolvimento pelo qual todas as sociedades humanas já passaram. As idéias por trás das linhas que compõem os hexagramas demonstram isso. Crê-se que inicialmente uma linha inteira (––) que hoje representa a idéia do yang, significaria antigamente um 'sim', e uma linha quebrada (– –), yin, um 'não'.
 
Essas respostas serviriam para perguntas simples. No entanto, com o passar do tempo foi desenvolvido um conjunto de símbolos mais complexos, que iria culminar nos trigramas e, por fim, nos hexagramas. Os trigramas possuem nomes que refletem aspectos da filosofia chinesa do yin e yang: O Criativo, O Abissal, O Receptivo, O Incitar, A Suavidade, O Aderir, A Alegria, A Quietude. Ao se juntarem, eles compõem os 64 hexagramas que formam o corpo do I Ching.
 
Cada hexagrama traz um conjunto de explicações e conselhos com o intuito de ajudar a pessoa a achar o melhor caminho para suas ações. A interpretação correta dos hexagramas parte da idéia de que tudo está interligado: a terra, o homem e o céu têm de agir em harmonia para que seja possível atingir a harmonia entre a nossa vida e a de quem nos cerca.

A consulta tradicional do oráculo geralmente é feita com 50 varetas de milefólio (um tipo de árvore considerada mágica), mas envolve uma série de rituais que, se cumpridos rigorosamente, estendem o tempo de cada consulta para mais de uma hora — o que a torna cansativa e reservada apenas a determinadas ocasiões. O método mais comum entre os praticantes é o das moedas que, embora simples, permite obter facilmente o trigrama correspondente. Esse método consiste em escolher três moedas, que serão jogadas ao mesmo tempo. Cada lado terá um valor numérico que, ao ser somado, resultará na linha yin ou yang correspondente. Costuma-se atribuir o valor 3 (yang) para cara e 2 (yin) para coroa. Após 6 jogadas, o hexagrama estará formado e a resposta pode ser procurada no livro.
 
Esse conjunto de linhas pode revelar um ponto essencial no estudo do I Ching como oráculo. Quando uma linha do hexagrama contém em si somente o yang (3+3+3 = 9) ou o yin (2+2+2 = 6) diz-se que ela é móvel ou velha. Nesse caso, ela se transforma no seu oposto. Uma linha yin móvel passa a ser yang jovem, e vice-versa. Com isso, além do hexagrama inicial, temos a sua conseqüência ou rumo mais provável que os acontecimentos tomarão.

Na China, acredita-se que o oráculo nunca falha, respondendo sempre de maneira clara e concisa. Quando a resposta se mostra enigmática a culpa é de quem está consultando, pois não formulou a pergunta corretamente. Todas as barreiras para entender as respostas estão em nossa mente e, se não se consegue compreendê-las, a culpa é só nossa.




E por fim... A Filosofia do I Ching



Os princípios filosóficos contidos no Livro das Mutações estão de tal forma integrados à vida intelectual da China que podem ser encontrados nas mais variadas formas de expressão cultural do país.
 

Como os habitantes daquele país sempre foram muito dependentes da agricultura, para eles é natural a necessidade de observar a mudança das estações, os períodos mais propícios ao plantio e, em especial, as relações entre o homem e o meio-ambiente. Essas exigências influenciaram também a filosofia contida no I Ching.
 

Inicialmente, a idéia do yin e yang foi elaborada com base nesses princípios. Sob a ótica das duas energias contrárias, os filósofos antigos podiam analisar e classificar o universo. O positivo, yang, o negativo, yin, formariam todas as coisas conhecidas ou ainda por conhecer. Essa noção surgiu em tratados filosóficos de pensadores de outros povos, mas na China ela foi um pouco mais longe. Lá eles acreditavam que mesmo o yin ou o yang mais puro conteria em si a semente de seu oposto. Para os chineses, nada continua como está, pois o caminho da natureza é a mutação: a riqueza possui em seu cerne a pobreza, o progresso contém a semente da decadência, o orgulho traz a queda e assim por diante. Esse é principal ensinamento contido no Livro das Mutações.
 

A própria idéia por trás dos oito trigramas incorpora esse sistema. Na verdade, eles representam estados de transformação — a energia yang do Criativo se transforma no yin do Receptivo, e assim por diante. Nada no contexto do I Ching pode ser visto de forma isolada, mas como relações entre as forças e energias que compõem o homem e a criação.
 

Outro ponto exposto nas leituras do I Ching é que os acontecimentos nascem antes no plano das idéias, manifestando-se no mundo material somente após algum tempo. Isso foi exposto e adotado pelos dois maiores pensadores chineses, Confúcio e Lao Tse, idéia que posteriormente seria abordada, embora com novo enfoque, por Jung em suas argumentações sobre o inconsciente coletivo e a sincronicidade, derivadas de seus estudos do oráculo chinês.


Um fator interessante nas idéias do I Ching é a capacidade do ser humano mudar o curso dos acontecimentos. Na maior parte das culturas e religiões, o homem é visto como um mero espectador dos desígnios do destino. No Livro das Mutações ele é co-autor do destino, influenciando sua vida por meio do conhecimento das forças yin e yang, quando necessário.
 

O I Ching tem como objetivo maior conduzir o homem a uma ação harmônica com o Tao (o Caminho Real). Para tornar isso mais efetivo, ele fornece uma visão abrangente da vida e das experiências humanas, permitindo que o homem assuma a responsabilidades por suas ações e se torne seu próprio soberano. Há mais de três mil anos, o livro já apresentava uma abordagem da vida e das relações entre os seres que, no final do século XX, tornou-se comum e conhecida como a visão holística do universo. Muito antes dos autores modernos afirmarem que o homem deveria ser visto como um todo, os sábios chineses não apenas já conheciam o conceito, como tinham elaborado um caminho prático para isso.
 

No interesse do mundo ocidental no I Ching começou com a tradução "Legge" em Inglês no final do século 19. Em toda a Europa e este trabalho, bem como o "Wilhelm" tradução alemã de 1923, são comuns a todas as línguas européias. Estas traduções, eventualmente, apareceram na América. Nos Estados Unidos, a popularidade do I Ching começou na década de 1930 quando traduções mais literais e interpretativa começaram a aparecer. Mas sua popularidade original principalmente como um "jogo de salão". Na década de 1940 o I Ching começou a assumir importância significativa como um livro de sabedoria quando o eminente psicólogo suíço, CG Jung, abraçou seus conceitos filosóficos. Hoje, o interesse pelo I Ching está experimentando um crescimento rápido e redescoberta como a sociedade se torna mais afinado com e consciente de ordens e poderes de que dispõem, embora amplamente ignorado até agora. Mesmo o entretenimento ou "salão de jogo" aspecto do I Ching está experimentando popularidade em expansão. A precisão associada ao uso correto e aplicação do I Ching está muito à frente de Cartas de Tarô, Quiromancia, ou Runas. E o I Ching, uma vez que é baseado na ordem natural, não requer energia psíquica. O I Ching também emprega horóscopos e numerologia em profecias, produzindo resultados que são fascinantes e realista. Ao encerrar esta breve história outro preceito do I Ching deve ser relacionado:
 

Note-se que o I Ching não é um conceito filosófico submisso, mas que espera que o consulente reconheça a situação ao invés de ceder às circunstâncias, tão necessário para evitar um desastre sobre si . Em aproximadamente 500 a.C Confúcio acrescentou o "Símbolos" e comentários ao I Ching, mas provavelmente nunca completou seu trabalho, ou uma parte substancial foi perdido. No final de sua vida ele foi citado como tendo dito: "Se eu tivesse 50 anos a viver mais que eu iria dedicar-los todos para o I Ching".