HISTÓRIA
DO LIVRO DAS MUTAÇÕES (I CHING, em
chinês)
(Fragmentos
do Livro das Mutações)
O I
Ching, ou Livro das Mutações, apareceu na China há aproximadamente
3.000 anos, mas teve sua origem em formas oraculares ainda mais antigas, de uma
época conhecida como “era mítica do Imperador Fu Hsi” (aproximadamente 4.000 anos a.C.), herói lendário considerado
o fundador da civilização chinesa.
É um texto clássico chinês composto de várias camadas,
sobrepostas ao longo do tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos
chineses que chegaram até nossos dias. Ching, significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua
edição dos antigos livros. Antes era chamado apenas I: o ideograma I é traduzido de muitas
formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como "mudança"
ou "mutação".
Na literatura chinesa, quatro sábios são citados como autores do
Livro das Mutações: respectivamente Fu Hsi, Rei Wen, o Duque
de Chou e Confúncio. Fu Hsi
é uma figura lendária que representa a era da caça
e da pesca, devendo-se a ele também o hábito de cozer alimentos. O fato de ser
ele indicado como o inventor dos signos lineares do Livro das Mutações
significa que lhes é atribuída uma tal antiguidade que antecede à memória
histórica.
Imperador Fu
Hsi
|
Rei Wen
|
Duque de Chou
|
Segundo a tradição geralmente aceita, sobre o qual não temos
motivo para levantar suspeitas, a atual compilação dos sessenta e quatro (64)
hexagramas teve sua origem com o Rei Wen, antecessor da dinastia Chou. Diz-se que ele acrescentou
breves julgamentos aos hexagramas durante o período em que esteve aprisionado
por ordem do tirano Chou Hsin. O
texto relativo às linhas foi redigido por seu filho, o Duque de Chou. Sob
essa forma, e com o título de “As
Mutações de Chou” (Chou I), foi
usado como oráculo durante o período da dinastia Chou como demonstram vários
antigos registros históricos.
Segundo a antiga tradição Chinesa, o inventor dos oito trigramas
(pa-kua)
que representam o fundamento do sistema do I Ching e dos quais derivam os 64
hexagramas, foi o primeiro lendário imperador Chinês que governou entre os anos
2852-2737 a.C.: Fu Hsi.
Este personagem doou às populações muitas invenções úteis e
inovadoras para a época, como a pesca com a rede, a criança de vermes de seda e
a oportunidade de domesticar os animais.
A mais importante entre suas invenções é a dos oitos trigramas e
a consultação do oráculo por meio dos ramos de aquileia (Achillea millefolium).
O segundo personagem que deu sua contribuição à composição do Livro das
Mudanças foi Ching
Wen, como vimos acima.
Conhecido como o fundador da Dinastia Chou (1150-249 a.c.) e
grande escritor (seu nome significa “civilização ching” ou “escritura ching”),
introduziu os 64 hexagramas, seu nome e significado (texto T’uan).
Ching Wen
escreveu seu livro durante a detenção ordenada por Hsin – o
tirano, destituído a seguir pelo filho Wu. Foi ele que deu o nome ao “Livro das
Mudanças”.
Essa era a forma do Livro quando Confúncio
o encontrou.
ORIGENS
O mais antigo método chinês de adivinhação do qual se tem
notícia é a leitura de sinais em ossos de boi. Em geral, a omoplata do animal
era colocada sobre o fogo e, depois de algum tempo, apareciam rachaduras no
osso, provocadas pelo calor, que eram então lidas como a mensagem do destino. Desse
método primordial – após o Imperador Fu
Hsi ter visto uma tartaruga sair do rio - derivou-se o de queimar a
carapaça (o casco) da
tartaruga, animal sagrado para os chineses, símbolo da
estabilidade e da longevidade. Exposta
também ao calor, a carapaça rachava-se e o adivinho interpretava as linha que
se tinham formado. Embora não exista nenhuma prova concreta, alguns estudiosos
especulam que esse tipo de leitura de linhas originou a primeira forma de I
Ching, constituída pelos oito Trigramas básicos, que alternam linhas
inteiras (Yang) e cortadas (Yin).
O I Ching
surgiu antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.) e era um conjunto de oito Kua,
figuras formadas por três e seis linhas sobrepostas. James Legge, na sua
tradução para o inglês (1882), chamou trigrama o conjunto de três linhas e
hexagrama o de seis, para distingui-los entre si.
Por volta de 1150 a.C., o Imperador Shang Chou Hsin,
despeitado pela reconhecida capacidade de governar do Rei Wen, senhor da
província de Chou, mandou aprisioná-lo. Enquanto estava preso, Wen
empregou seu tempo elaborando os julgamentos que acompanham os
hexagramas. Depois de um período de lutas, no qual a província de Chou se
rebelou, o Rei Wen retirou-se do governo e foi sucedido pelo seu filho Wu,
que derrotou a dinastia Shang, dando
início à dinastia Chou. Wu,
conhecido como o Duque de Chou,
descobriu os estudos que o pai realizara sobre o I ching e, percebendo a importância cultural que continha, decidiu continuar a
obra. Sua grande contribuição foram os 384
comentários das linha mutáveis (ou móveis).
Segundo a tradição, durante a dinastia Shang (c. 1766-1122 a.C.) e durante o
primeiro período da dinastia
Chou, o oráculo era consultado através de varetas de caule de
milefólio. O adivinho jogava as varetas e obtinha um número par ou impar, que
determinava se a linha era inteira ou cortada, depois de ter jogado seis vezes,
o hexagrama estava formado.
Muito tempo depois (Século 6 a.C), o I Ching foi
enriquecido com os comentários, atribuídos a Confúcio (adaptação ocidental do nome K'ong Fu-Tse)
e alguns de seus discípulos. Posteriormente, Pu Shang, um seguidor de Confúcio,
foi encarregado de difundir os conhecimentos milenares conservados no livro,
formando-se então em torno dele toda uma escola filosófica, que produziu grande
quantidade de textos anteriores, deram origem ao que atualmente é conhecido
como as Dez
Asas. Sobrevivendo às guerras, às várias
dinastias e à queima das bibliotecas, o I Ching atravessou os séculos até chegar ao Ocidente em fins do
século passado. No entanto, o Livro das Mutações
ainda deveria esperar até 1923 para alcançar uma tradução à altura de seus
méritos. Nesse ano, depois de longas pesquisas, o sinólogo Richard Wilhelm deu a conhecer sua tradução para a língua alemã da
grande obra chinesa.
Confúcio
Atribui-se a Confúcio (Kung Tzu,
551-478 a.c.) a escritura dos Comentários e parte dos Apêndices
do “Livro das Mutações” ou “O Livro das Mudanças”.
À idade de 50 anos, Confúcio declarou: “Se o céu me pudesse dar outros 50 anos
de vida, os dedicaria ao estudo do I- Ching e quiçá então aprenderia a
manter-me afastado dos problemas”. Confúcio
escreveu dez comentários sobre este clássico, chamados “As
Dez Asas”, transformando um texto de predições numa das melhores obras
da filosofia.
Já com idade avançada dedicou-lhe um intenso estudo, sendo muito
provável, que o Comentário sobre a Decisão (T’an Chuan), seja trabalho
seu. O Comentário sobre a
Imagem também reporta a ele, ainda que menos diretamente. De um
terceiro tratado, um importante e detalhado comentário sobre as linhas,
compilado por seus discípulos ou sucessores sob a forma de perguntas e
respostas, restam apenas fragmentos. (Alguns encontram-se na seção intitulada “Wên Yen” – Comentário às Palavras do Texto -, outros estão no “Ta Chuan” – O Grande Tratado).
Desde então o livro do I Ching foi a inspiração também para os
sucessivos Taoistas, como Chuang
Tzu e Lao
Tzu, e para diferentes filósofos e científicos.
Repito, dentre os seguidores de Confúncio parece que foi
principalmente Pu Shang (Tzu
Hsia) que difundiu o conhecimento do Livro das Mutações. Com o
desenvolvimento da especulação filosófica, como se vê no “Ya Hsueh”
e no “Chung Yung”,
esse tipo de filosofia exerceu uma influência cada vez maior na interpretação
do Livro das Mutações. Toda uma filosofia se desenvolveu em torno do Livro, do
qual fragmentos – alguns antigos, outros mais recentes – encontram-se nas
chamadas “Dez Asas” (Coletânea de Tratados referentes ao I Ching). Elas diferem muito entre si quanto ao conteúdo e valor
intrínseco.
O Livro das Mutações escapou ao destino dos outros clássicos na
época da famosa queima de livros ordenada pelo tirano Ch’in Shih Huang Ti. Caso houvesse algum fundo de realidade na
lenda de que esse incêndio seria o único responsável pela mutilação dos textos
dos antigos tratados, o
I Ching, pelo
menos, deveria estar intacto; mas não é esse o caso. Na verdade, as
vicissitudes dos séculos, o colapso das culturas tradicionais e a mudança no
sistema de escrita é que são responsáveis pelos danos sofridos por todas as
obras da antiguidade.
Os livros de bambu e seda viraram fumaça, arruinando o nome do
imperador. No rio eles guardavam em vão reino do dragão imperial. Mesmo antes
que as cinzas tivessem esfriado, uma rebelião eclodiu em Shandong - Liu Bang e Xiang Yu, ao que
parece, não leu os livros. - Zhang Jie (836-905)
Notas:
Este poema refere-se à famosa queima de livros ordenados por Qin Shi Huang (ou
Ch’in Shih Huang Ti), o primeiro imperador da China, em 213 a.C., a fim de
suprimir a dissidência e destruir os escritos de todas as escolas de
pensamento, exceto para os legalistas (Fajia??). Livros na época eram escritos
em tiras de bambu ou rolos de seda. A ironia é que as rebeliões camponesas e
revoltas militares que derrubaram o Império Qin apenas
sete anos depois (206 a.C.), foram conduzidos por homens de ação que não
estavam interessados em "livro-aprendizagem", como Xiang Yu, um alto
general, e Liu Bang, um oficial do Exército
que se tornou o fundador do Han de Qin Shi
Huang, Tiananmen Wax Museum, em Pequim.
O I Ching
escapou à grande queima de livros feita pelo tirano Ch'in Shih Huang Ti, no tempo em era
considerado um livro de magia e adivinhação, o que levou a escola de magos das
dinastias Ch'in e Han a interpretá-lo segundo outras visões “A doutrina do yin-yang”
foi sobreposta ao texto. O sábio Wang
Pi veio a resgatá-lo como livro de sabedoria mais tarde.
Ch’in
Shih Huang Ti
Filosofia
e Cosmologia no I Ching
As oito figuras que formam o I Ching
estão na base da cultura que se desenvolveu na China durante milênios. Para os
chineses a ordem do mundo depende de se dar o nome correto às coisas, portanto
o significado de "I" sempre foi objeto de discussão. Alguns vêem o
ideograma I como semelhante ao desenho de um camaleão, representando o
movimento (como o lagarto) e a mutação (como o mimetismo do camaleão). Outros
afirmam que o ideograma é formado pelo do Sol em cima e o da Lua embaixo, a
mutação sendo simbolizada pelo movimento incessante destes astros no céu.
Os versos do I
Ching foram transmitidos por sucessivas gerações de estudiosos até o
século 17 a.C, quando foram anotadas em tiras de bambu. No século 12 a.C, o rei
Wen escreveu os primeiros comentários sobre o trigramas do I Ching.
Ao longo do tempo, o Rei Wen, seu filho e Tan o Duque de Chou continuou a
trabalhar sobre o I Ching e é o que Duke está creditando com ajuste de dois
trigramas uma sobre a outra para fazer um hexagrama .
Muito mais tarde, o imperador Chin proibiu centenas de livros
sobre religião e filosofia. E, mais tarde foi Hitler, Stalin, o Khmer Vermelho
de Mao Tze Tung e, o I Ching que estavam na lista do conhecimento proibido.
Apesar de tudo, sobreviveu e foram transmitidos oralmente pelos ciganos, que
tinha a vantagem de nunca ficarem em qualquer lugar por tempo suficiente para
ser controlado por nenhum governo. Durante a última dinastia imperial, que
durou de 1644-1912, as raízes originais do I Ching
foi mais uma vez descoberto e estudado, e desta vez eles
permaneceram na impressão. Os comunistas chineses desaprovou a adivinhação
chinesa , considerando-os superstições inúteis, mas eles perceberam que era
tarde demais para bani-las totalmente.
O I Ching ou Livro das Mutações,
é um texto clássico chinês composto por várias camadas, sobrepostas ao longo do
tempo. É um dos mais antigos e um dos únicos textos chineses que chegaram até
nossos dias.
Ching,
significando clássico, foi o nome dado por Confúcio
à sua edição dos antigos livros de conhecimento.
Antes era chamado apenas I : o ideograma
I
é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como
"mudança" ou "mutação".
Para o pensamento chinês, não há o que mude, há apenas o mudar. A mutação seria o caráter do mundo. Mas a mutação é, em
si mesma, invariável, ela existe sempre. Portanto, "I" significa mutação e não-mutação. Subjaz, à complexidade do universo, uma 'simplicidade'
que consiste nos princípios que estão por detrás de todos os ciclos. Ao fluir
com as circunstâncias evita-se o atrito e portanto a resistência: esse é o caminho
do homem sábio.
Tanto o taoísmo como o confucionismo, as duas linhas da filosofia
chinesa, beberam da fonte do I.
Tudo que ocorre no céu e na terra tem sua imagem nos oito
trigramas, que estão continuamente a transformar-se um no outro. Têm várias
camadas de significados, e representam processos da natureza. São, portanto, o
mundo arquetípico, ou
o mundo das idéias de Platão. É usada para ilustrá-los a analogia com a família:
- o pai é
forte
- a mãe é
maleável
- os três
filhos são as três fases do movimento: início, perigo e repouso
- as três
filhas são as três etapas da devoção: suave penetração, clareza e
tranquilidade
Em Heráclito (filósofo pré-socrático grego), e mais tarde na
dialética européia, encontramos os ecos da fluidez que é a base do I Ching.
Já vimos que, a origem dos 64 hexagramas é atribuída a Fu Hsi, o criador
mítico chinês, e até a dinastia Chou eles formavam o I. Os oito trigramas têm
nomes não encontrados em chinês e a sua origem é pré-literária.
O tempo obscureceu a compreensão das linhas, e no começo da
dinastia Chou surgiram dois anexos: o Julgamento, atribuído pela
tradição ao rei Wên, e as Linhas, atribuídas a seu filho, o duque de Chou,
ambos fundadores desta dinastia.
Mais tarde, mesmo o significado destes textos começou a ficar
obscuro, e no século VI a.C. foram acrescentadas as
Dez Asas, que a tradição atribui a Confúcio,
embora seja claro que a maioria delas não pode ser de sua autoria. O nome
"I Ching" é dado ao conjunto dos Kua e
todos os textos posteriores.
Houveram várias traduções do "I Ching" para línguas ocidentais, algumas claramente
desrespeitosas, tratando a cultura chinesa como primitiva. A tradução de James
Legge fez parte da série Sacred books of
the East (Livros sagrados do Oriente), e foi traduzida também para o português.
Richard
Wilhelm traduziu o I
Ching para o alemão ao longo dos anos em que viveu na China,
inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi
cercada. Teve o apoio de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao ser concluída a tradução. A edição
alemã é do ano de 1923. Wilhelm traduziu também outro clássico chinês, o
Tao Te Ching.
O
uso oracular do I Ching
O ênfase no aspecto oracular do "I" variou com o
tempo. No século VI a.C. era visto mais como livro de filosofia, ao passo que
na dinastia Han, quando a magia teve grande papel, era visto como oráculo.
Como todo oráculo, exige a aproximação correta: a meditação
prévia, o ritual, e a formulação precisa da pergunta. O oráculo nunca falha, quem falha é o consulente: se a pergunta não foi clara e precisa, isto indica que
a pessoa não tem clareza sobre o que deseja saber. O ritual tem a função psicológica de focar a atenção da
pessoa na consulta.
Mudanças nos assuntos terrestres e celestes seguem uma ordem
previsível natural, com permutação causados pelo destino, o comportamento
terrestre e celeste é considerado além da capacidade da humanidade de controlar
e representa a Ordem Universal ou Cósmica. A única palavra "Tao", que
se traduz como "Caminho," representa um modo Universal ou Cósmico e é
usado em todo o texto a seguir.
Humanidade, por outro lado, exercícios de vontade livre
e possui a capacidade de mudança de comportamento por escolha. I
CHING captura viaja da humanidade que a Ordem Universal (Tao) e fornece conselhos
com os quais pode-se fazer uma mudança significativa para a melhoria da sua
própria vida. Como o I Ching identifica a posição da humanidade dentro do Tao,
que também é capaz de retratar e prever circunstâncias tão facilmente como se
pode prever queda de neve nos dias de inverno ou quente no verão.
Isto leva a um dos preceitos importantes do I Ching:
"Para Pessoas Superior do I Ching dá conselhos,
relativamente
às pessoas Inferior faz previsões. "
A "Pessoa Superior" é considerado como aquele que está
se esforçando para a melhoria no estilo de vida, comportamento, e a acumulação
de sabedoria. A "pessoa inferior" é considerado como sendo lançados
sobre pelos caprichos do destino.
Significado do I Ching
O livro do I Ching,
conhecido também como “o livro das mudanças”, é um dos cinco clássicos e
fundamentais livros do Confucionismo. Desde tempos imemoráveis é, sem lugar a
dúvidas, o principal oráculo e o primeiro recurso espiritual dos povos
asiáticos. Ademais, tem sempre tido um aumento crescente em Europa e América
graças a sua misteriosa potencialidade de dar prognósticos muito detalhados a
quem deseje estudá-los com atenção. O I Ching não faz uma
verdadeira previsão do futuro, mas brinda uma clara visão do presente e oferece
indicações sobre como enfrentar o momento atual que estamos a viver.
“Vai bem mais” da pergunta que foi formulada, pondo ao nu as mais profundas
verdades da natureza de nosso inconsciente; naturalmente, consultando o I
Ching obtém-se também a previsão de um determinado evento, mas
dependerá sempre de nossa vontade.
Mais
da história do I Ching
I CHING - O LIVRO DAS MUTAÇÕES
Há milhares de anos o I Ching
é utilizado como oráculo e conselheiro, servindo imperadores e
pessoas comuns de modo imparcial. Segundo
os sábios, ele pode abrir as portas do autoconhecimento e funcionar como uma
chave para a compreensão do universo.
As lendas chinesas dizem que o I Ching
- O Livro das Mutações surgiu num período mítico do tempo, mas a
história afirma que os textos e comentários mais antigos datam do período em
que teriam vivido o Rei Wen e seu filho, o Duque Chou, no século XII a.C.. A
autoria do I
Ching clássico é creditada ao Rei Wen e acredita-se que os comentários
foram um acréscimo do sábio Confúcio (551-479 a.C.), quando de seu famoso
estudo sobre o Livro das Mutações.
Para grande parte dos pesquisadores, o famoso milenar oráculo é
um produto do amadurecimento sócio-cultural da China nos últimos 3000 anos.
Tudo o que aconteceu de importante nesse período foi de alguma maneira adaptado
e acrescentado à obra. Vários estudiosos do Oriente e Ocidente têm se debruçado
sobre suas páginas com o objetivo de estudá-lo e compreender melhor os textos
que, muitas vezes, tornam-se enigmas de difícil entendimento devido à linguagem
rebuscada do chinês antigo.
O I
Ching também teve grande influência sobre toda a filosofia chinesa,
principalmente o Taoísmo e Confucionismo — duas das principais linhas de
pensamento chinês. Mas essa influência não se restringiu à filosofia apenas,
estendendo-se ao governo, música e artes plásticas. Várias obras foram
inspiradas nas idéias contidas no oráculo e decisões de Estado foram tomadas
com base no julgamento que ele apresentava.
O Livro das Mutações é tão considerado pelos chineses que foi a
única obra que sobreviveu à queima de escritos e livros no período de Ch'in
Shih Huang Ti, quando desapareceram dezenas ou centenas de obras que poderiam
esclarecer diversos pontos da história do Extremo Oriente.
Os textos e comentários do I Ching foram trazidos ao ocidente
por James Legge, em seu livro The Sacred
Book of the East, XVI: The I King,
editado em 1882. Foi ele quem utilizou pela primeira vez os termos trigrama
(três linhas dispostas de forma vertical representando, respectivamente, de
baixo para cima: a terra, o homem e o céu) e hexagrama (dois grupos de
trigramas verticais), posteriormente adotados em todos os escritos sobre o
tema. Mas o grande responsável pela divulgação do no ocidente foi Richard
Wilhelm em sua obra I Ching - O Livro das
Mutações, publicado no Brasil pela Editora Pensamento. O volume traz
comentários do ilustre Carl Gustav Jung, que se apaixonou pelo que ali está
escrito, e dedicou-se ao seu estudo e compreensão durante toda a vida.
Quando os filósofos e intelectuais do Ocidente descobriram
livro, começaram a perceber a grande sabedoria contida em suas palavras, que
revelavam uma forma inovadora de lidar com a vida e o ser humano. A maneira
como o Extremo Oriente era visto até então mudou radicalmente, com a
profundidade filosófica da obra comparada aos textos de Platão e Sócrates. Não
apenas isso, segundo alguns estudiosos, o I Ching pode até mesmo ser comparado a outros livros sagrados da
humanidade, como a Bíblia e a Torah.
O "I Ching"
pode ser compreendido e estudado tanto como um oráculo quanto como um livro de
sabedoria. Na própria China, é alvo do estudo diferenciado realizado por
religiosos, eruditos e praticantes da filosofia de vida taoísta.
O uso do Livro das Mutações como oráculo sempre foi muito
controverso. De maneira geral, as pessoas buscam no sobrenatural uma resposta
para seus questionamentos e dúvidas, acreditando que o mundo espiritual tem
todas as soluções que elas necessitam. Com o I Ching,
as coisas não são bem assim.
O Livro das Mutações não é somente um oráculo, mas também um
oráculo. No ocidente, vários erros e abusos foram cometidos como resultado de
uma visão estereotipada sobre ele. Na maior parte das vezes, a obra serve
somente como um guia, mostrando qual direção seguir ou indicando percalços e vantagens
possíveis de cada caminho.
A busca por verdades espirituais é um desenvolvimento pelo qual
todas as sociedades humanas já passaram. As idéias por trás das linhas que
compõem os hexagramas demonstram isso. Crê-se que inicialmente uma linha
inteira (––) que hoje representa a idéia do yang, significaria antigamente um
'sim', e uma linha quebrada (– –), yin, um 'não'.
Essas respostas serviriam para perguntas simples. No entanto,
com o passar do tempo foi desenvolvido um conjunto de símbolos mais complexos,
que iria culminar nos trigramas e, por fim, nos hexagramas. Os trigramas
possuem nomes que refletem aspectos da filosofia chinesa do yin e yang: O
Criativo, O Abissal, O Receptivo, O Incitar, A Suavidade, O Aderir, A Alegria,
A Quietude. Ao se juntarem, eles compõem os 64 hexagramas que formam o corpo do
I Ching.
Cada hexagrama traz um conjunto de explicações e conselhos com o
intuito de ajudar a pessoa a achar o melhor caminho para suas ações. A
interpretação correta dos hexagramas parte da idéia de que tudo está
interligado: a terra, o homem e o céu têm de agir em harmonia para que seja
possível atingir a harmonia entre a nossa vida e a de quem nos cerca.
A consulta tradicional do oráculo geralmente é feita com 50
varetas de milefólio (um tipo de árvore considerada mágica), mas envolve uma
série de rituais que, se cumpridos rigorosamente, estendem o tempo de cada
consulta para mais de uma hora — o que a torna cansativa e reservada apenas a
determinadas ocasiões. O método mais comum entre os praticantes é o das moedas
que, embora simples, permite obter facilmente o trigrama correspondente. Esse
método consiste em escolher três moedas, que serão jogadas ao mesmo tempo. Cada
lado terá um valor numérico que, ao ser somado, resultará na linha yin ou yang
correspondente. Costuma-se atribuir o valor 3 (yang) para cara e 2 (yin) para
coroa. Após 6 jogadas, o hexagrama estará formado e a resposta pode ser
procurada no livro.
Esse conjunto de linhas pode revelar um ponto essencial no
estudo do I Ching como oráculo. Quando uma linha do hexagrama contém em si
somente o yang (3+3+3 = 9) ou o yin (2+2+2 = 6) diz-se que ela é móvel ou
velha. Nesse caso, ela se transforma no seu oposto. Uma linha yin móvel passa a
ser yang jovem, e vice-versa. Com isso, além do hexagrama inicial, temos a sua
conseqüência ou rumo mais provável que os acontecimentos tomarão.
Na China, acredita-se que o oráculo nunca falha, respondendo
sempre de maneira clara e concisa. Quando a resposta se mostra enigmática a
culpa é de quem está consultando, pois não formulou a pergunta corretamente.
Todas as barreiras para entender as respostas estão em nossa mente e, se não se
consegue compreendê-las, a culpa é só nossa.
E por fim... A
Filosofia do I Ching
Os princípios filosóficos contidos no Livro das Mutações estão
de tal forma integrados à vida intelectual da China que podem ser encontrados
nas mais variadas formas de expressão cultural do país.
Como os habitantes daquele país sempre foram muito dependentes
da agricultura, para eles é natural a necessidade de observar a mudança das
estações, os períodos mais propícios ao plantio e, em especial, as relações
entre o homem e o meio-ambiente. Essas exigências influenciaram também a
filosofia contida no I
Ching.
Inicialmente, a idéia do yin e yang foi elaborada com base
nesses princípios. Sob a ótica das duas energias contrárias, os filósofos
antigos podiam analisar e classificar o universo. O positivo, yang, o negativo,
yin, formariam todas as coisas conhecidas ou ainda por conhecer. Essa noção
surgiu em tratados filosóficos de pensadores de outros povos, mas na China ela
foi um pouco mais longe. Lá eles acreditavam que mesmo o yin ou o yang mais
puro conteria em si a semente de seu oposto. Para os chineses, nada continua
como está, pois o caminho da natureza é a mutação: a riqueza possui em seu
cerne a pobreza, o progresso contém a semente da decadência, o orgulho traz a
queda e assim por diante. Esse é principal ensinamento contido no Livro das
Mutações.
A própria idéia por trás dos oito trigramas incorpora esse
sistema. Na verdade, eles representam estados de transformação — a energia yang
do Criativo se transforma no yin do Receptivo, e assim por diante. Nada no
contexto do I
Ching pode ser visto de forma isolada, mas como relações entre as
forças e energias que compõem o homem e a criação.
Outro ponto exposto nas leituras do
I Ching
é que os acontecimentos nascem antes no plano das idéias,
manifestando-se no mundo material somente após algum tempo. Isso foi exposto e
adotado pelos dois maiores pensadores chineses, Confúcio e Lao Tse, idéia que
posteriormente seria abordada, embora com novo enfoque, por Jung em suas
argumentações sobre o inconsciente coletivo e a sincronicidade, derivadas de
seus estudos do oráculo chinês.
Um fator interessante nas idéias do
I Ching é a
capacidade do ser humano mudar o curso dos acontecimentos.
Na maior parte das culturas e religiões, o homem é visto como um mero
espectador dos desígnios do destino. No Livro das Mutações ele é co-autor do
destino, influenciando sua vida por meio do conhecimento das forças yin e yang,
quando necessário.
O I
Ching tem como objetivo maior conduzir o homem a uma ação harmônica
com o Tao (o Caminho Real). Para tornar isso mais efetivo, ele fornece uma
visão abrangente da vida e das experiências humanas, permitindo que o homem
assuma a responsabilidades por suas ações e se torne seu próprio soberano. Há
mais de três mil anos, o livro já apresentava uma abordagem da vida e das
relações entre os seres que, no final do século XX, tornou-se comum e conhecida
como a visão holística do universo. Muito antes dos autores modernos afirmarem
que o homem deveria ser visto como um todo, os sábios chineses não apenas já
conheciam o conceito, como tinham elaborado um caminho prático para isso.
No interesse do mundo ocidental no I Ching começou com a tradução "Legge" em Inglês no final do
século 19. Em toda a Europa e este trabalho, bem como o "Wilhelm"
tradução alemã de 1923, são comuns a todas as línguas européias. Estas
traduções, eventualmente, apareceram na América. Nos Estados Unidos, a
popularidade do I
Ching começou na década de 1930 quando traduções mais literais e
interpretativa começaram a aparecer. Mas sua popularidade original
principalmente como um "jogo de
salão". Na década de 1940 o I Ching
começou a assumir importância significativa como um livro de
sabedoria quando o eminente psicólogo suíço, CG Jung,
abraçou seus conceitos filosóficos. Hoje, o interesse pelo I Ching
está experimentando um crescimento rápido e redescoberta como a sociedade se torna
mais afinado com e consciente de ordens e poderes de que dispõem, embora
amplamente ignorado até agora. Mesmo o entretenimento ou "salão de
jogo" aspecto do I
Ching está experimentando popularidade em expansão. A precisão
associada ao uso correto e aplicação do I Ching está muito à frente
de Cartas de Tarô, Quiromancia, ou Runas. E o I Ching,
uma vez que é baseado na ordem natural, não requer energia psíquica. O I Ching
também emprega horóscopos e numerologia em profecias, produzindo resultados que
são fascinantes e realista. Ao encerrar esta breve história outro preceito do I Ching
deve ser relacionado:
Note-se que o I
Ching não é um conceito filosófico submisso, mas que espera que o consulente
reconheça a situação ao invés de ceder às circunstâncias, tão necessário para
evitar um desastre sobre si . Em aproximadamente 500 a.C Confúcio acrescentou o
"Símbolos" e comentários ao I Ching, mas provavelmente nunca completou seu trabalho, ou uma parte
substancial foi perdido. No final de sua vida ele foi citado como tendo dito:
"Se eu tivesse 50 anos a viver mais
que eu iria dedicar-los todos para o I Ching".